domingo, 3 de julho de 2016

A Beleza Renascentista

A Beleza Renascentista
O claro é melhor que o escuro em pintura? Existe um padrão de harmonia e equilíbrio para avaliar todos os objetos produzidos por culturas diferentes? Por que o homem precisa repetir as imagens que conhece? Por que precisa destruir o que é diferente?
Todos os referenciais de beleza em que se baseavam os homens renascentistas perdem sentido quando utilizados como instrumentos de medida em outras culturas.
Os descobridores foram aqueles que enfrentaram o choque entre o padrão cultural europeu e o indígena. O confronto ocorreu exatamente no momento em que o europeu possuía o domínio pleno do espaço (viagem de circunavegação), e por esse motivo se considerava superior a todos aqueles que não desejavam conquistar o mundo.
A perspectiva favoreceu o fortalecimento da ideia de equilíbrio, excluindo do imaginário uma infinidade de variantes. Esse é o caso de todas as representações produzidas pelos astecas, maias e inças, que não estavam restritas à cópia da figura humana.
Devemos perceber, como processos concomitantes, descobrimentos e Renascimento. Só assim poderemos compreender por que Cortês destoai Tenochtitlán (hoje cidade do México), apesar de ter admirado a beleza e o funcionamento.
A população gostava de flores, e com elas enfeitava sua cidade. Parte da circulação era feita por canais e a água era trazida por aquedutos. O centro comercial situava-se em Tlateloco, onde compareciam por mia de 25 mil pessoas, indicando nesse movimento constante de compra e venda uma boa rede de distribuição de mercadorias. A cidade contava com 100 mil casas envolvendo uma população superior a 500 mil habitantes.
A "perfeição" da cultura europeia  nas obras renascentistas não permitia que o descobridor reconhecesse uma outra imagem, diferente da sua, também como "perfeita". Para excluir as diferenças entre as diversas regiões do globo era necessário privar de vida as culturas em confronto, transformando-as em fragmentos.
A perda foi grande. Parte dos costumes e tradições dos indígenas foram destruídos. Cortês e outros conquistadores mandaram matar os sacerdotes, destruir seus ídolos e os documentos que continham as tradições indígenas. Apesar de tanta destruição, o perfil indígena se manteve na América. Imitando e repetindo os europeus, comemorando a morte como sempre faziam em seus rituais, mantiveram vivas as lembranças.


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Fonte:
Descobrimentos e Renascimento, por: Janice Theodoro. Editora Contexto, 1991, págs. 59-60.

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