Stop Thanatos
"Stop. A vida parou. Ou
foi o automóvel?" Em seu primeiro livro (Alguma Poesia, de 1930), Drummond incluiu "Cota Zero",
poema transcrito acima. A palavra "stop", fortíssima, globalizada
muito antes da globalização, prepara o terreno para a tese do poema — a fusão
homem/máquina.
Hoje, em
muitos lugares do mundo, o que no nosso código de trânsito é representado pela
inútil placa "PARE"— que nossos motoristas analfabetos funcionais não
conseguem ou não sabem ler — vem indicado pela palavra inglesa
"stop". E, por motivos óbvios, é em inglês que mundo afora têm sido
escritas as várias faixas de protesto contra os horrores da guerra dos Bálcãs.
Inegavelmente, o inglês é universal.
Pois bem.
Numa dessas noites de insônia, vi na RAI (emissora italiana) uma manifestação
ocorrida em Roma. No meio de um mar de faixas — poucas em italiano, a maioria
em inglês —, uma se destacava: "STOP THANATOS". A sigla NATO estava
destacada, escrita em cor diferente. A faixa exposta em Roma é ótima prova da
necessidade do conhecimento plural.
O MEC tem
razão. O ministério exige que os currículos escolares se baseiem na
multidisciplinaridade, no texto transversal. É imperativo formar o aluno
cidadão, capaz de compreender o mundo. A partir de um radical grego
("thanatos", que significa "morte"), o manifestante foi
criativo ao vincular a NATO (que em português é OTAN) à ideia de extermínio.
Pronto! Está
mais do que feita uma bela aula multidisciplinar. Dela podem participar o
professor de geopolítica - certamente representado pelo de história ou pelo de
geografia, ou por ambos —, o de biologia, o de filosofia (se o houver) e o de
português.
O que faria
cada um? O de geopolítica dispensa explicações. O de português poderia mostrar
que o radical "thanatos" está presente em "eutanásia", em
que entra o elemento "eu", também grego, que significa "bem,
bom, belo". Está criado o dominó sem fim da etimologia (origem das palavras).
O "eu" de "eutanásia é o mesmo de "eufonia" ("som
bom"). "Eutanásia" nada mais é do que "morte boa".
Surge o professor de filosofia. O de biologia, além de discutir a questão
científica da morte, pode trabalhar com o de português para expandir os radicais
e chegar a termos comuns em ciências biológicas.
De um fato
estúpido — a guerra —, surge uma faixa. Uma simples faixa, interdisciplinar. Se
alguém duvidar de que a interdisciplinaridade já seja real, que examine a
primeira fase do vestibular da Unicamp de 1999, ou a prova da PUC de Campinas
do mesmo ano. É isso.
15/04/99
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Fonte:
Inculta e Bela - 2, por: Pasquale Cipro Neto. Publifolha. São Paulo, 1999,
págs. 38-39.
Fonte:
Inculta e Bela - 2, por: Pasquale Cipro Neto. Publifolha. São Paulo, 1999,
págs. 38-39.
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