quinta-feira, 7 de julho de 2016

Origem da festa de São João

Origem da festa de São João
Ao observar as variações periódicas de clima ao longo do ano, o homem primitivo procurou associá-las ao movimento aparente do Sol no céu, descobrindo, com auxilio dos seus monumentos megalíticos, as direções do nascente e poente do Sol durante todo um ano. Com esses observatórios de enormes menires alinhados, os astrônomos da idade da pedra descobriram que o Sol, em quatro bem determinadas épocas do ano, nascia e se punha em quatro pontos diferentes do horizonte, que correspondiam ao início das estações — quatro grandes alterações climáticas. Com tais conhecimentos, aproveitavam-se os sacerdotes das tribos primitivas para anunciarem e preverem o ponto exato do aparecimento do Sol, no horizonte, o que lhes fornecia o poder de dominar seus discípulos ou crentes. Mais uma vez o conhecimento — o saber do cosmo — iria ser usado para favorecer os governantes. Assim, criaram-se os altares de menires e, mais tarde, as catedrais de pedra, onde os sacerdotes, que já haviam previsto a ocorrência daqueles fenômenos astronômicos, solicitavam aos crentes com antecedência a necessidade de alguns atos religiosos com os quais seria possível alterar os desígnios da natureza.
Assim, a descoberta dos solstícios deu origem às festas coletivas nas quais o Sol era honrado com o fogo, a luz suprema, que o homem oferecia às divindades pagãs.
Surgiram, desse modo, duas festas dedicadas ao fogo: a festa do verão, que tem lugar no solstício de verão, em 21/22 de julho, e a outra de inverno, em 21/22 de dezembro. Em virtude da inclemência do clima, em dezembro, nos países do hemisfério Norte, a festa de São João passou a ser a mais praticada. Por uma transposição essencialmente cultural, os povos do hemisfério Sul passaram a comemorar a festa do Sol, em junho, durante o dia de São João. Esta manifestação atuai, dedicada a um santo da Igreja Católica, atravessou milênios sem sofrer grandes alterações, pois o culto do fogo permaneceu profundamente associado ao coração dos humanos. É a procurado Sol, ente máximo da verdadeira renovação de vida, que assistimos diária e anualmente.
Na realidade, todas essas festas célticas sazonais datam do Neolítico e estão intimamente ligadas ao conhecimento dos equinócios e dos solstícios. Constituem um prolongamento dos rituais agrários que marcavam as estações do ano.
Estudando o calendário lunissolar dos celtas, descobrimos a existência de quatro festas ao longo do ano. Todas essas comemorações dão lugar a ritos religiosos assim como a diversões e jogos, alguns dos quais atravessaram os tempos e chegaram até os nossos dias, como tradições do nosso folclore.
Entre os jogos que os celtas celebravam entre o inverno e a primavera, havia um que deve ter dado origem ao futebol. Esse futebol céltico possuía regras bem definidas. Inicialmente era jogado uma só vez em cada ano. As duas equipes cada uma com doze jogadores, compostas de um lado por indivíduos casados e do outro por solteiros, deveriam deslocar uma bola de couro, de volume considerável e cheia de lasca, por isso só deslocável com o pé; cada grupo procurava defender o seu lado. As extremidades do campo em que se realizava esse jogo possuíam posições bem determinadas geograficamente. Uma ficava ao lado leste, na direção do Sol nascente e a outra do lado oeste, na direção do Sol poente. O deslocamento do leste para oeste, segundo a marcha aparente do Sol, representado pela bola, era um dos modos de cultuar o astro do dia e a sua luz que preparava as riquezas da primavera. A esses jogos da primavera seguia-se a preparação de outro jogo de origem religiosa e solar, nos solstícios. Era a festa do fogo, do deus do Sol, que se pratica até hoje no dia de São João.
Convém lembrar que quase todos os monumentos megalíticos e pré-cristãos, assim como algumas de nossas igrejas cristãs, estão orientados do ponto de vista cósmico. Será bom recordar que as festas célticas deram origem às atuais festas católicas.


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Fonte:
Anuário de Astronomia - 1983, por: Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Editora Francisco Alves. Rio de Janeiro, 1983, págs. 165-166.

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