domingo, 10 de julho de 2016

Darwin e Wallace

Darwin e Wallace
Nas linhas anteriores, fez-se menção da carta de 1º de maio de 1856, em que Darwin aprova inteiramente o ensaio de Wallace. Além disso, na mesma carta, Darwin comunica a seu correspondente que chegou a uma ideia distinta da de seus predecessores, referente às causas e aos meios de variação na natureza: "Será ela verdadeira, será falsa? Que outros a julguem, pois a mais firme convicção que tem o autor da verdade de sua doutrina não parece ser, infelizmente, a menor garantia da verdade."
Contente com essa prova de confiança dada por Darwin, Wallace escreve, a 4 de janeiro de 1858, a seu amigo Bates: "Fiquei muito feliz com uma carta de Darwin, em que ele me diz que subscreve 'quase palavra por palavra' o meu trabalho. Ele está preparando agora sua grande obra sobre as espécies e as variedades, para a qual reúne material há vinte anos. Ele pode me poupar muita dificuldade provando que não há diferença de natureza entre espécies e variedades, como também pode me perturbar formulando outra conclusão; mas, de qualquer forma, poderei trabalhar sobre seus dados." Resulta dessas palavras que Darwin não partilhou sua concepção referente ao mecanismo de transformação das espécies com seu correspondente.
Em uma outra carta, de 22 de dezembro de 1857, que, evidentemente, só chegou a Wallace após este ter escrito sua própria carta citada acima, Darwin exprime sua concordância com Wallace, sem lhe comunicar sua própria descoberta: "Mesmo concordando com suas conclusões, creio que vou bem mais longe; mas participar-lhe minhas ideias teóricas seria tarefa excessivamente longa..." Enfim, respondendo a Wallace, parece hesitar em abordar o problema delicado da evolução do homem: "O sr. me pergunta se eu discutirei 'o homem'. Acho que evitarei esse tema, que está cercado de tão grande número de preconceitos, ainda que eu admita que, para um naturalista, esse seja o problema mais elevado e mais interessante..." Não é sem interesse observar que Wallace nunca estenderá, por motivos religiosos, sua teoria transformista até a espécie humana, o que Darwin fará, em seu livro consagrado à Descendência do homem (1871).
Recebendo, em 1858, o trabalho de Wallace, Darwin constata que este chegou, independentemente, às mesmas conclusões relativas à seleção natural, como principal mecanismo de transformação das espécies. Assim, Darwin escreve uma carta a Lyell, a 18 de junho de 1858, transmitindo-lhe esse trabalho, que lhe causa um grave problema de consciência: "Sua previsão se realizou como uma vingança... Nunca vi coincidência mais impressionante; se Wallace tivesse visto o manuscrito de meu esboço, escrito em 1842, não teria feito um melhor resumo dele; seus próprios termos são os títulos de meus capítulos. Peco-lhe que me devolva o manuscrito; ele não me diz que deseja publicá-lo, mas, naturalmente, eu me oferecerei para enviá-lo a qualquer jornal. Assim sendo, toda a minha originalidade, seja ela qual for, será destruída, ainda que meu livro, se é que ele tem algum valor, não deva sofrer com isso, pois todo o trabalho consiste na aplicação da teoria. Espero que o sr. aprove o esboço de Wallace, e eu poderei dizer a ele o que o sr. pensa."


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Fonte:
Darwin e o Darwinismo, por: Denis Buican. Tradução: Lucy Magalhães. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 1987, págs. 37-39.

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