quinta-feira, 7 de julho de 2016

Dois livros, duas teorias... um novo rumo...

Dois livros, duas teorias... um novo rumo...
Há pouco mais de um século, entre 1857 e 1859 a publicação de dois livros, um deles na França, O Livro dos Espíritos, escrito por Allan Kardec, e o outro na Inglaterra, A Origem das Espécies, por Charles Darwin, foram os marcos de uma grande reviravolta na história intelectual e espiritual da humanidade.
O conteúdo que traziam foi capaz de não somente abalar toda a estrutura da mentalidade humana, mas, também, de mudar a compreensão do ser humano sobre si próprio e de seu lugar no universo,
Na época em que foram lançados, porém, não foram facilmente aceitos, além de criarem controvérsias e discussões nos meios científico e religioso, numa luta não pouco acirrada do materialismo contra o idealismo religioso; do pensamento científico, que apresentava uma nova versão para a origem do homem, e do kardecismo, que trazia uma nova ideia de I Vus, do universo e do próprio homem.
Para podermos entender um pouco melhor todo o impacto que causaram na época, deixemo-nos transportar no tempo e tentemos participar, sutilmente, dos pensamentos e sentimentos que permeavam a mente de toda a sociedade em meados do século XIX. Uma vez estando lá, vamos procurar sentir aquela atmosfera que preenchia os salões onde as pessoas mais nobres e bem posicionadas na vida, entre risos e vozes, recendendo a falsa modéstia, discorriam sobre os mais variados assuntos, distribuindo largamente entre si as novidades.
Era um povo que, na maioria, frequentava os cultos religiosos, lia a Bíblia e, em suas críticas, rejeitava quaisquer sugestões que fossem contra a moral e a fé. Com isso, apesar de nem sempre as atitudes serem reflexos de um sentimento verdadeiro, as pessoas sentiam-se justificadas perante seu Deus, ainda que lhes importassem mais as opiniões alheias do que realmente as suas próprias.
Neste aspecto, talvez tenhamos mudado e amadurecido bastante, apesar de não termos, ainda, conseguido levantar totalmente o véu de nossas considerações mais íntimas sobre nós mesmos, de tal forma que continuamos a escapar de uma sinceridade maior conosco e com os nossos semelhantes. Entretanto, encontramos hoje uma liberdade maior de pensamento, de crer ou não, de sermos religiosos ou agnósticos sem o medo de esbarrarmos no limite dos preconceitos que tanto nos assustam.
Os conhecimentos, hoje, são bem mais profundos e nossa visão do mundo modificou-se daquela que tínhamos cem anos atrás.
Aquele era um tempo no qual o orgulho e a vaidade perambulavam pela sociedade sempre pronta a críticas e pouco acessível em desculpar qualquer coisa que pudesse ferir seus ufanos sentimentos.
Embalados pela ideia de terem sido criados como seres especiais, com o mundo a seu dispor e uma alma cujo destino era alcançar o paraíso, sentiam-se na obrigação de ter como verdade somente os antigos textos sagrados, considerando qualquer fato, qualquer menção contrária ou, que pudesse pô-los em dúvida, como um artefato demoníaco. Firmavam-se mais no medo do que no verdadeiro amor a Deus e isso os impedia de abrirem os olhos e analisarem o mundo, a vida e o Grande Autor de tudo, de maneira diversa daquela na qual eram tão arraigados.
Foram dois livros e duas teorias que, independentemente do impacto causado, apontaram para um novo modo de olhar a vida e de entendê-la. Uma delas indicava o ser humano para mostrá-lo como animal, e tão-somente animal, descendente de animais; a outra o revelava como ser espiritual, não importando a origem material de seu corpo, não importando sua vestimenta animal.


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Fonte:
Darwin e Kardec, por: Hebe Laghi de Souza. Editora Allan Kardec. Campinas, 2007, págs. 1-2.

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