sexta-feira, 15 de julho de 2016

Darwin e o homem

Darwin e o homem
A ideia de que o darwinismo era uma doutrina que se aplicava apenas aos seres vivos não-humanos é outra versão absolutamente incorreta. No Origem das Espécies, Darwin passa comodamente ao largo das implicações de sua teoria com o homem. No entanto, no seu Origem do Homem, ele penetra na questão e, aí, suas opiniões deixam pouca margem de dúvida.
Darwin e seu primo Francis Galton, juntamente com uma série de pensadores seus contemporâneos, acreditavam que a "raça" humana poderia ser melhorada se fossem evitados "cruzamentos indesejáveis". A sociedade era vista com uma clara divisão: de um lado, os membros "superiores", sadios, inteligentes, ricos e, obviamente, brancos; de outro, os membros "inferiores", mal nutridos, doentes, pobres, de constituição racial duvidosa. Estes deveriam ser impedidos de se reproduzirem, pois acabariam por "rebaixar toda a raça". A evolução biológica do homem poderia ser "acelerada", imitando-se os mesmos rituais de seleção "vistos" na Natureza. Os mais aptos, evidentemente, estavam entre os indivíduos das classes dominantes.
Darwin chegava até a prever a completa extinção de raças inteiras, consideradas "inferiores". Escreveu pouco antes da morte, numa carta de 1881: "Eu poderia esforçar-me e mostrar o que a seleção natural fez e ainda faz para os progressos da civilização, mais do que aquilo que pareceis admitir. Lembrai-vos do perigo que correram as nações europeias, alguns séculos atrás, de serem esmagadas pelos turcos e do quanto esta ideia nos parece ridícula hoje em dia. As raças mais civilizadas, que chamamos de caucásicas, bateram os turcos em campo raso na luta pela existência. Fazendo um relance sobre o mundo, sem olhar num porvir muito longínquo, quantas raças inferiores serão em breve eliminadas pelas raças que têm um grau de civilização superior!".
Se lembrarmos do jovem naturalista na Austrália, veremos que era exatamente este o raciocínio que utilizou para prever o futuro do canguru: seria dizimado pelos magricelas galgos ingleses. Se esta previsão estava errada, desgraçadamente Darwin acertou com relação aos "civilizados": assassinaram impiedosamente os povos primitivos que não aceitaram a submissão ao seu domínio.
No Origem do Homem, deixava muito claras suas posições racistas: "A seleção permite ao homem agir de modo favorável, não somente na constituição física de seus filhos, mas em suas qualidades intelectuais e morais (sic). Os dois sexos deveriam ser impedidos de desposarem-se quando se encontrassem em estado de inferioridade muito acentuada de corpo ou espírito." E mais adiante: "Todos aqueles que não podem evitar uma abjeta pobreza para seus filhos deveriam evitar de se casar, porque a pobreza não é apenas um grande mal, mas ela tende a aumentar; (...) enquanto os inconscientes se casam e os prudentes evitam o casamento,os membros inferiores da sociedade tendem a suplantar (em número) os membros superiores. Como todos os animais, o homem chegou certamente ao seu alto grau de desenvolvimento atual mediante luta pela existência, que é consequência de sua multiplicação rápida; e, para chegar a um mais alto grau ainda, é preciso que continue a ser mantida uma luta rigorosa (...). Deveria haver concorrência aberta para todos os homens e dever-se-iam fazer desaparecer todas as leis e todos os costumes que impedem os mais capazes de conseguir seus objetivos e criar o maior número possível de crianças."
O grande Charles Darwin não declara expressamente a que grupo pertencia. Mas pelo fato de ter tido dez filhos e de ser uma pessoa rica, deduz-se facilmente...
É comum dizer-se que Darwin não afirmou que o homem descendia do macaco. Isto está correto. Darwin dizia coisa muito pior. Seu racismo não o abandonava. Afirmava que o homem descendia dos selvagens! E não parava aí. Dizia que preferia descender de um forte e valente macaco, do que ter um desses selvagens como ancestral.
A aplicação de sua teoria ao homem, ou, mais propriamente, a extensão ao organismo humano dos valores burgueses de propriedade privada e acumulação, resultou no que se chamou eugenia. Ò melhoramento da raça através das recomendações da eugenia eram os ideais do nazismo. O Estado Nazista não era, portanto, nada mais que um Estado capitalista onde a melhoria do corpo dos cidadãos fazia parte da estratégia global de aumento de produtividade.
Hitler garantia procriação aos cidadãos alemães que possuíssem cabelos loiros, boa estrutura, rosto estreito, queixo bem formado, nariz fino e arrebitado, olhos claros e profundos e pele de um branco rosado. Os homens selecionados poderiam ingressar na tropa de elite, a SS, e poderiam ter o número de filhos que desejassem, sem precisar casar. O Estado cuidaria de criar e educar tais crianças, segundo os ideais do nazismo.
A trajetória do nazismo é bem conhecida. As câmaras de gás e os seis milhões de assassinatos, também. O que pouco se fala é que os Estados Unidos também adotavam políticas eugenistas na mesma época.
No Congresso de Eugenia de Nova Iorque, em 1933, foi proposta a esterilização em massa dos alcoólatras, criminosos e loucos. Tal medida "limparia" a sociedade norte-americana de toda "escória humana", em poucas gerações. No Brasil, a Liga Brasileira de Higiene Mental propôs, em 1934, que se formassem tribunais eugênicos, para classificar os indivíduos, reforma eugênica dos salários (os brancos deveriam ganhar mais) e seguro-paternidade eugênico, assegurando assistência à criança branca.
A eugenia de forma alguma foi característica exclusiva do nazismo. Esteve, e está, presente nas nações capitalistas com pretensões hegemônicas. Os "bancos de esperma", as pesquisas de fecundação artificial, etc., são prova disto.

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Fonte:
Coleção Primeiros Passos: O que é Darwinismo, por: Nélio Marco. Editora Brasiliense, 2ª Edição. São Paulo, 1989, págs.  67-71.

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