segunda-feira, 20 de junho de 2016

O Barroco no Brasil

Barroco no Brasil
1. A situação do Brasil-Colônia
Não era nada boa a situação do Brasil-Colônia ao longo do século XVII: os portugueses não demonstravam amor à terra e exerciam uma exploração predatória; os jesuítas cuidavam da educação e dominavam a mentalidade; a imprensa estava proibida e grandes latifundiários mantinham as rédeas do poder. A atividade agrícola mais importante era o cultivo de cana-de-açúcar e nada se podia fabricar aqui; os portugueses mantinham o monopólio do comércio, e os jesuítas mantinham o monopólio da cultura.
Como explica Amauri Sanches no livro Panorama da literatura no Brasil, "o ambiente de que o Brasil se pôde dotar — cujo centro administrativo era a Bahia — não propiciava o florescimento da arte. Sem um processo orgânico de cultura não haveria campo para a atividade literária e sistemática. O que se fez durante a época em que o Barroco predominou como estilo acabou tendo caráter quase eventual: foi produzido um conjunto de textos decorrentes do fato de portugueses e brasileiros sensíveis para a literatura terem iniciado ou continuado obra literária resultante de formação cultural que traziam da metrópole (os brasileiros abastados concluíam os estudos em Portugal). Mas vale lembrar que nossos autores — Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Padre António Vieira — escreveram aqui, e isso acabou por determinar certa especificidade em sua obra; são textos que lembram.o fato de terem sido muitas vezes inspirados pela realidade singular da Colônia".

2. Autores e obras
1. Bento Teixeira Pinto (Porto, Portugal, 1561? — Lisboa, Portugal, 1600) Bento Teixeira tem sido apontado como nosso primeiro poeta e iniciador da produção literária influenciada pelo Barroco português. Veio para o Brasil por volta de 1567, formando-se pelo Colégio dos Jesuítas da Bahia.
E autor da Prosopopeia, poemeto épico que revela forte influência de Os Lusíadas, em que louva Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco.
2. Manuel Botelho de Oliveira (Salvador, BA, 1636 - Salvador, BA, 1711) Publicou Música do Parnaso (1705), reunindo poemas em português, italiano, espanhol e latim, além de duas comédias: Hay amigo para amigo e Amor, enganos y celos.
3. Frei Manuel de Santa Maria Itaparica (Itaparica, BA, 1704 — 1770?) Sua obra de maior interesse é a Descrição da Ilha de Itaparica (1741), na qual faz uma apologia de sua terra natal, descrevendo minuciosamente atividades, recursos minerais, tipos humanos e riquezas naturais.
4. Padre Antônio Vieira (Lisboa, Portugal, 1608 — Salvador, BA, 1697) Antônio Vieira veio para o Brasil aos seis anos, permanecendo aqui a maior parte de sua vida e aqui redigindo quase toda a sua obra.
Foi o maior pregador do seu tempo, defensor dos negros e dos índios — sobretudo dos índios — e dos cristãos-novos (judeus convertidos). A defesa dos cristãos-novos e sua fidelidade ao rei D. João IV valeram-lhe o ódio da Inquisição. Após a morte do seu protetor, D. João IV, a Inquisição processou-o por opiniões heréticas. Durante algum tempo foi imposto a ele o internamento numa casa jesuítica e o impedimento de pregar. Anistiado por D. Pedro, regressou ao Brasil em 1681.
Sua obra compreende:
a) Obras  de profecia: História do futuro; Esperanças de Portugal;
b) Oratória: Sermões (15 volumes). Dentre eles, destacam-se: Sermão da Sexagésima (sobre a arte de pregar); Sermão pelo Bom Sucesso das Armas (por ocasião da invasão holandesa do Brasil, em 1640); Sermão de Santo Antônio (ou Sermão dos Peixes, em defesa do índio escravizado).
5. Gregório de Matos Guerra (Salvador, BA, 1633 - Recife, PE, 1696) Gregório de Matos é o mais importante poeta brasileiro do Barroco e um dos exemplos mais expressivos do comportamento da época. Refletindo o dualismo barroco, ora demonstrava a aversão que sentia pelo clero, ora revelava em seus poemas uma profunda devoção às coisas sagradas, ora escrevia versos pornográficos, sensuais e eróticos.
Cursou leis em Coimbra, época de suas leituras de Gôngora e Quevedo, poetas espanhóis dos quais revela nítidas influências, além de Camões.
Graças à linguagem maliciosa e ferina com que criticava pessoas e instituições da época (não dispensando palavras de baixo-calão), recebeu o apelido de Boca do Inferno, tendo inclusive de exilar-se por algum tempo em Angola, perseguido pelo filho do governador António da Câmara Coutinho (vítima de suas sátiras).
Sua obra costuma ser dividida em:
a) Poesia amorosa:
Ontem quando te vi, meu doce emprego,
tão perdido fiquei por ti, meu bem,
que parece, este amor nasce, de quem
por amar-te já vive sem sossego.

b) Poesia religiosa:
Estou, Senhor, da vossa mão tocado,
e este toque em flagelo desmentido
era à vossa justiça tão devido,
quão merecido foi o meu pecado.

c) Poesia satírica:
Ilustre, e reverendo Frei Lourenço,
quem vos disse que um burro tão imenso,
siso em agraz, miolos de pateta
pode meter-se em réstia de poeta?

A poesia lírica de Gregório de Matos ora celebra o sensualismo africano, ora o erotismo nativista, ora vincula-se à tradição renascentista. Em suas sátiras não investia apenas contra os poderosos, mas contra o ser humano que considerava inepto, corrupto e mau. Seus poemas religiosos refletem a inquietação do homem diante da divindade e a consciência da fragilidade e da pequenez dos mortais.
Não publicou em vida nenhuma edição de sua obra, o que deixa dúvidas sobre a autenticidade de muitos textos a ele atribuídos. Recomendamos:
Obras completas de Gregório de Matos. Org. James Amado. Bahia, Janaína, 1968. 7 vol.
Poemas escolhidos. São Paulo, Cultrix, 1975. Sei., intr. e notas de José M. Wisnik.


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Fonte:
Língua, Literatura e Redação: Volume 1, por: João Domingues Maia. Editora Ática, 6ª Edição.  São Paulo, 1992, págs. 194-197.

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