sexta-feira, 17 de junho de 2016

Machado de Assis: do Morro do Livramento à Academia Brasileira de Letras

Machado de Assis: do Morro do Livramento à Academia Brasileira de Letras
Machado de Assis, o hoje famoso romancista, não nasceu nem famoso nem romancista. Nasceu Joaquim Maria simplesmente, moleque de morro, magro, franzino e doentio, certamente moreno. Filho do mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes, e da portuguesa Maria Leopoldina, Joaquim Maria nasceu em 1839, no dia 21 de julho.
Ainda menino pequeno, fica órfão de mãe. O pai casa-se novamente e a madrasta, Maria Inês, contraria a lenda das madrastas: substituiu em cuidados e carinhos a mãe verdadeira e mesmo o pai, que também morreu logo depois. O menino cresceu, assim, ao lado de Maria Inês, lavadeira e doceira, cujas balas e doces Machado se encarregava de vender na porta dos colégios que não podia frequentar.
Até aí, nada que prenunciasse a glória futura. Nada que fizesse ver no moleque baleiro o futuro fundador e presidente perpétuo da respeitabilíssima Academia Brasileira de Letras. Até aí, apenas a vida difícil que qualquer menino pobre do Rio de Janeiro levava nos idos de 1840.
Para ele, nada de escola que, na época, era privilégio dos bem nascidos da vida, dos que tinham pai doutor, fazendeiro, ou, pelo menos, funcionário público. De escola mesmo, só algumas aulas numa escolinha da redondeza, aulas de primeiras letras, do bê-a-bá, da conta do
mais e do menos. O resto viria depois, fora do tempo e fora da escola, com muito esforço de Machado, e um pouco de ajuda do padre Silveira Sarmento.
A Biografia de Machado é sóbria como suas poucas fotografias, que sempre mostram uma figura composta e bem vestida, de óculos sem aro, de barbicha, costeletas discretas e penteadas, de terno e colete. Tudo em cores sóbrias, como convinha àquela época.
Rígido como estas fotografias é o que se conhece da vida de Machado, o "Machadinho" para os amigos íntimos: nem grandes travessuras de criança, nem grandes aventuras de rapaz, nem mesmo grandes amores. Paixão grande de verdade, só por Carolina, recebida como esposa em matrimonio sacramentado. Vida perfeita, portanto, para uma biografia de escola, onde boêmios e não boêmios ganham asas de anjo, onde todos ficam bem-comportados, obedientes, estudiosos.
Mas, com Machado, talvez não seja preciso ocultar deslizes e amenizar pecados da juventude. Se os teve, ficaram esquecidos. Até os dezesseis anos, quando conseguiu publicar seu primeiro trabalho, Machado viveu em "brancas nuvens" ou, melhor dizendo, no cinzento amargo de um menino pobre que cedo decidiu ser escritor.
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Fonte:
"Machado de Assis". Literatura Comentada. Seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico  e crítico e exercícios por: Marisa Lajolo. Abril Educação. São Paulo, 1980.

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