sábado, 18 de junho de 2016

As origens do islamismo

As origens do islamismo
A construção do Estado árabe
A Arábia é uma extensa península situada entre a Ásia e a África, tendo como limites o mar Vermelho a oeste, o golfo Pérsico a leste, o mar Mediterrâneo ao norte e o oceano Índico ao sul. Com clima quente e seco, 80% do seu território constitui-se de desertos.
A história da Arábia costuma ser dividida em duas grandes fases:
Arábia pré-islâmica — período anterior à religião fundada por Maomé.
Arábia islâmica — período caracterizado pelo islamismo, religião fundada por Maomé.
Arábia pré-islâmica
Por volta do século VI, viviam na Arábia diversos povos de origem semítica, que podem ser agrupados em:
Arabes beduínos — povos seminômades que vagavam pêlos desertos. Organizados em tribos, dedicavam-se à pecuária.
Árabes urbanos — povos sedentários que habitavam as cidades situadas principalmente no litoral. Dedicavam-se sobretudo às atividades comerciais, sendo responsáveis pelas caravanas de camelos que transportavam produtos do Oriente para as regiões do mar Mediterrâneo.
Os diversos povos da Arábia não formavam um Estado com unidade política, mas tinham elementos culturais comuns, como o idioma árabe e certas crenças religiosas. Além disso, eram politeístas e adoravam cerca de 360 divindades.
Numa tentativa de dar maior unidade às diversas tribos árabes, foi construído na cidade de Meca um santuário religioso, a Caaba (casa de Deus), reunindo as principais divindades de toda a Arábia. Na Caaba existia a Pedra Negra (provavelmente, um pedaço de meteorito), que era bastante venerada, pois acreditava-se ter sido trazida do céu pelo anjo Gabriel.
Devido ao santuário, Meca tornou-se o centro religioso dos árabes e, também, o centro comercial da Arábia, pois a cidade transformou-se em ponto de encontro de pessoas e de mercadorias de diversas regiões.
Arábia islâmica
Unidos pela religião fundada por Maomé, os diversos povos árabes conquistaram um extenso território, constituindo uma das mais importantes civilizações do mundo.
Maomé e o islamismoMaomé (570-632) pertencia à tribo dos coraixitas, que tinha como missão zelar pela Caaba de Meca.
O avô de Maomé, além de possuir cargo religioso importante, era um comerciante bem-sucedido. Entretanto, Maomé sofreu dificuldades econômicas em sua infância e adolescência: aos sete anos, tendo perdido os pais, passou a ser criado por um tio e, muito cedo, teve que começar a trabalhar como pastor de carneiros. Menciona-se que Maomé, em sua juventude, teria feito viagens à Síria e, talvez aí, tenha estabelecido seus primeiros contatos com o cristianismo e com o judaísmo.
Aos 25 anos de idade Maomé casou-se com Khadija, uma rica viúva que o incumbiu de dirigir seus negócios comerciais. Com esse casamento Maomé deixou a vida de pobreza, subindo na escala social. Mas, apesar da riqueza, Maomé sentia-se interiormente insatisfeito e, por isso, dedicava-se à meditação.
Aos 40 anos, passou a ter uma série de visões que o convenceram de que ele era o profeta escolhido por Deus (Alá) para anunciar aos homens uma nova doutrina religiosa.
Iniciando suas pregações religiosas, Maomé entrou em conflito com os sacerdotes de Meca, que eram politeístas e estavam interessados em manter a cidade de Meca como centro religioso e comercial dos árabes. Devido a esse conflito, Maomé foi obrigado a deixar a cidade, em 622, e a fugir para Yathrib, posteriormente denominada Medina, a cidade do profeta. Essa data denomina-se Hé-gira e marca o início do calendário muçulmano.
Aos poucos, Maomé estruturou sua religião e organizou um exército de seguidores, que, em 630, conquistou Meca. A Caaba foi transformada num centro de orações, e Maomé proibiu todos os cultos idólatras que antes existiam.
Doutrina islâmica
A total submissão a Alá
Um dos aspectos mais importantes da religião pregada por Maomé é a total submissão do homem à vontade do Deus único do universo, denominado Alá. Essa submissão plena é chamada de islão e aquele que tem fé é conhecido como muslim.
O conteúdo básico da doutrina muçulmana (também chamada islâmica ou maometana) pode ser resumido em cinco regras essenciais:
• Crer em Alá, o único Deus, e em Maomé, seu profeta.
• Realizar cinco orações diárias.
• Ser generoso para com os pobres e dar esmolas.
• Obedecer ao jejum religioso durante o ramadã (mês anual de jejum).
• Ir em peregrinação a Meca pelo menos uma vez durante a vida.

Alcorão
As revelações feitas por Alá a Maomé foram reunidas por seus discípulos no livro sagrado Alcorão (a leitura). O texto do Alcorão foi fixado definitivamente em 653, por Zayd ibn Trabit, antigo secretário de Maomé, durante o governo do califa Otman (644-656).
Além de orientações meramente religiosas, o Alcorão contém diversas instruções sociais, de considerável importância para a preservação da ordem e dos interesses dos grandes comerciantes. Entre essas instruções, destacam-se a proibição de ingestão de bebidas alcoólicas, a severa punição ao roubo, a proibição de comer carne de porco, a proibição da prática de jogos de azar e permissão da poligamia e da escravidão. Além disso, o Alcorão diz que no dia do Juízo Final Alá premiará aqueles que seguiram sua doutrina e castigará os desobedientes.
O espírito de revolta social dos árabes era desencorajado através da doutrina da predestinação. De acordo com o Alcorão, tudo o que acontece no mundo já foi previamente estipulado por Alá, não cabendo ao homem modificar seu destino.
A crença na predestinação levava os árabes socialmente desfavorecidos a se conformar com sua situação social, resignando-se diante do poder das classes dirigentes.
Os sunitas e os xiitas
Após a morte de Maomé, a religião islâmica não conseguiu manter-se plenamente unificada. Dividiu-se em diversas seitas, dentre as quais destacam-se a dos sunitas e a dos xiitas.
As principais diferenças, no plano religioso e político, que separam os sunitas dos xiitas são:
Sunitas — defendem que o chefe do Estado muçulmano (califa) deve reunir sólidas virtudes (honra, respeito pelas leis, capacidade de trabalho), mas não acham que ele deve ser infalível ou impecável em suas ações. Além do Alcorão, aceitam como fonte de ensinamentos religiosos as Sunas, livro que reúne o conjunto de tradições recolhidas com os companheiros de Maomé.
Xiitas — defendem que a chefia do Estado muçulmano só pode ser ocupada por alguém que seja descendente do profeta Maomé ou com ele aparentado. Afirmam que o chefe da comunidade islâmica, o imã, é diretamente inspirado por Alá, sendo, por isso, um ser infalível. Dessa maneira, todos os fiéis devem obediência incondicional ao imã. Aceitam somente o Alcorão como fonte sagrada de ensinamentos religiosos.
Nos dias de hoje, os principais seguidores da seita xiita encontram-se mais concentrados no Ira e no Iêmen. Nas demais regiões do mundo islâmico, predominam os seguidores do sunismo.

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Fonte:
História e Consciência do Mundo, por: Gilberto Cotrim. Editora Saraiva, 5ª Edição. São Paulo, 1997, págs. 123-125

Um comentário:

  1. por favor queria explicação sobre. A crença na predestinação levava os árabes socialmente desfavorecidos a se conformar com sua situação social, resignando-se diante do poder das classes dirigentes.

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