domingo, 19 de junho de 2016

A Questão Christie

 A Questão Christie
Essa questão diplomática originou--se de dois incidentes quase simultâneos, que motivaram o agravamento das tensões entre o Brasil e a Inglaterra. O relacionamento entre eles explica-se, sobretudo, pela inabilidade intencional com que foram tratados por Sir William Dougal Christie, representante britânico junto ao governo imperial, na ocasião.
Naufragando o navio inglês "Prince of Wales", em junho de 1861, nas costas do Rio Grande do Sul, habitantes da região se apropriaram dos restos de seu carregamento. Christie exigiu do governo brasileiro a indenização da carga desaparecida (6.000 libras esterlinas), chegando, ainda, à infundada acusação de massacre dos possíveis sobreviventes, cuja falsidade foi comprovada. Esse problema estava sendo discutido, quando, em j unho de 1862, três oficiais da marinha inglesa foram presos no Rio de Janeiro, onde, sem uniformes e em estado de embriagues, promoviam desordens. Tendo desrespeitado a sentinela de um posto policial, foram obrigados a passar a noite ali. O chefe da divisão inglesa intercedeu, e os oficiais foram libertados, mas alegaram vexa-; mês morais sofridos na prisão onde pernoitaram. O ministro britânico exigiu a punição de várias autoridades policiais, além de um pedido oficial de desculpas. Voltou, por outro lado, a insistir no pagamento da indenização anteriormente requerida. Suas exigências relativas .aos dois incidentes foram seguidas de um "ultimatum" ao governo brasileiro.
O Marquês de Abrantes, Ministro dos Negócios Estrangeiros, sustentou a posição brasileira em torno dos problemas criados por Christie. Como o Brasil não atendesse de pronto às exigências formuladas, o almirante Warren, em represália, e seguindo instruções de Christie, bloqueou o porto do Rio de Janeiro e aprisionou cinco navios brasileiros (30/12/1862), conduzindo-os para uma possessão inglesa. Perante tais arbitrariedades, a população carioca se levantou contra Christie e os cidadãos britânicos. Os tumultos só cessaram pela intervenção pessoal do Imperador, que determinou, a seguir, o pagamento de 3.200 das 6.000 libras em questão. Como a Coroa Britânica se negasse a desculpar-se pelos problemas criados por Christie e a afastá-lo do cargo, o império rompeu suas relações diplomáticas com a Inglaterra,
O caso, porém, foi submetido ao arbitramento do rei da Bélgica, Leopoldo I. O laudo arbitral, apresentado a 18 de junho de 1863, foi, em tudo, favorável ao Brasil. No documento, o governo brasileiro foi louvado pelos esforços empreendidos no sentido de capturar os responsáveis pela posse das mercadorias do "Prince of Wales" e pela ponderação com que agiu, não instruindo processo contra os oficiais presos em 1862.
No entanto, as relações diplomáticas interrompidas só foram reatadas depois de prolongada ação mediadora do embaixador português em Londres, Conde do Lavradio, e após a entrevista do enviado britânico Edward Thornton com D. Pedro II, no acampamento de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, onde este último se encontrava inspecionando as tropas envolvidas na Guerra do Paraguai. Thornton, nessa oportunidade, apresentou ao Imperador desculpas do governo britânico, aplainando as dificuldades.
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Fonte:
História Geral da Civilização Brasileira, por: Paulo Miranda Gomes, Nelson de Moura e Alaíde Inah González. Lê Editra. Belo Horizonte, 1977, págs. 122-123.

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