domingo, 19 de junho de 2016

Argentina: o Peronismo (1945-1955)

Argentina: o Peronismo (1945-1955)
Até 1930, a industrialização argentina esteve subordinada ao setor agroexportador. De 1930 a 1960, como ocorreu também no Brasil, na Argentina alterou-se o padrão de desenvolvimento econômico, com a política de industrialização voltada para a substituição das importações, portanto, para o mercado interno.
É nesse quadro que aparece o político argentino de influência mais duradoura na Argentina contemporânea: Juan Domingo Perón.
Admirador do fascismo italiano de Mussolini, Perón era o líder de uma organização militar denominada Grupo de Oficiais Unidos. No regime militar implantado pelo golpe militar de 1943, que derrubou o presidente Castillo, Perón ocupou a Secretaria do Trabalho e da Previdência e fez aprovar uma série de leis trabalhistas, como jornada de oito horas de trabalho, salário mínimo, previdência social e apoiou a formação e atuação dos sindicatos, inclusive pressionando empresários relutantes a atenderem às reivindicações dos trabalhadores.
Ora, o objetivo de Perón era o apoio dos trabalhadores, tanto da cidade como do campo. Do seu crescimento dependia o êxito do programa paternalista do governo, isto é, eram necessários trabalhadores sem experiência política e sindical, sem ideologia própria e sem liderança.
As medidas populares foram acompanhadas de leis que auxiliavam os empregados, como a ajuda do Estado às atividades industriais e comerciais. A política assistencialista de Perón era justificada junto aos empresários como garantia do controle das massas para manter a paz e a ordem.
Em outubro de 1945, grupos militares ligados aos setores dominantes (oligarquia) conseguiram destituí-lo da Secretaria e aprisioná-lo. Mas uma mobilização popular maciça (cem mil participantes) liderada por sua mulher, Eva Perón, libertou-o e o reconduziu ao posto. Cinco meses depois foi eleito presidente, com uma votação esmagadora.
Em seu governo, a organização sindical estendeu-se para os trabalhadores de todas as indústrias, o mesmo acontecendo com os benefícios previdenciários. A educação gratuita foi oferecida a todos e casas populares foram construídas e efetivamente entregues. Enfim, a maioria dos direitos trabalhistas que hoje se tornou corriqueira foi estabelecida.
A ampliação de sua base política se efetivou com a introdução do voto feminino. A partir de 1951, no seu segundo mandato, Eva Perón teve um papel fundamental junto aos trabalhadores, em especial as mulheres. A política sindical tornou-se sua própria esfera de poder.
Paralelamente à legislação trabalhista, Perón nacionalizou a companhia telefônica, as ferrovias, os bondes e serviços de gás.
A popularidade de Perón e Evita equilibrou-se na doutrina justicialista que procurou conciliar legislação trabalhista para os descamisados com os interesses do grande capital na Argentina.
A situação ou conjuntura econômica pós-guerra era favorável e possibilitou a Perón incrementar a industrialização sem contrariar os interesses do poderoso setor agroexportador.
O êxito de sua política permitiu-lhe fundar e difundir uma ideologia — o justicialismo — que pretendia fazer de seu governo um sistema equidistante do comunismo e do capitalismo.
Mas o êxito era aparente. A multiplicação das funções do Estado e as nacionalizações efetivadas não tardaram a gerar uma grave crise nas finanças públicas.
Como nos demais países latino-americanos, as indústrias argentinas importavam equipamentos (máquinas) do exterior, cujos preços eram muito superiores aos dos produtos primários exportados. O resultado foi o crescente endividamento externo. Além disso, a recuperação da Europa do pós-guerra provocou a queda dos preços dos produtos primários, desequilibrando a balança comercial argentina.
Ora, a popularidade de Perón estava ancorada em sua doutrina justicialista, na qual ressaltava o nacionalismo e o anti-imperialismo. Entretanto, o crescente endividamento da Argentina fez com que Perón passasse a depender do auxílio norte-americano e, portanto, a efetuar importantes concessões aos seus interesses, particularmente às suas empresas petrolíferas.
Perón procurou encobrir a crise adotando uma postura demagógica, como a que legalizava o divórcio e abolia a instrução religiosa nas escolas. Tais medidas apenas provocaram a ira da Igreja Católica e multiplicaram conflitos de rua entre peronistas e clericalistas. O gratuito clima de agitação foi propício para que os antiperonistas desfechassem violentos ataques ao governo através da imprensa.
Nesse clima de grande acirramento dos ânimos, em 31 de agosto de 1955, Perón jogou a sua cartada final, e perdeu. Naquela data, ele se decidiu finalmente a adotar uma posição esquerdista e convocou os "descamisados" para combater os conservadores. No início de setembro ele dirigiu um apelo para que a Confederação Geral do Trabalho (CGT) criasse milícias operárias. Em 16 de setembro, as Forças Armadas reagiram depondo Perón e colocando em seu lugar o general Pedro Eugênio Aramburu, que permaneceu no poder entre 1957 e 1958.


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Fonte:
Américas: uma introdução histórica, por: Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira. Atual Editora. São Paulo, 1995, 270-272.

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